[Nota do KadettClube: Como em todas publicações automotivas, existem diversos erros no texto e itens muito mal avaliados. A matéria vale como registro.]
Confira o primeiro teste publicado pela revista Autoesporte, em 1989.
Texto originalmente publicado na Revista Autoesporte nº 288, de 1989
Pelo que pudemos sentir em duas semanas de rodagem pelas ruas e estradas de São Paulo, o pequeno Kadett causou sensação. Ninguém ficava indiferente à sua passagem. Mesmo sem a campanha publicitária no ar ou na televisão, o Kadett era reconhecido por todos e muitas pessoas já falavam com desenvoltura do novo projeto da GM.
Para a empresa, a introdução do novo carro se reveste da maior importância mercadológica e completa seu leque de opções ao mercado, com veículos em todos os segmentos. Basta, agora, em alguns anos, substituir o velho Opala por uma linha moderna – como a do Senator, por exemplo -, e a GM terá no Brasil todas as condições para brigar de uma vez por todas por um velho sonho: a liderança nas vendas.
Outro aspecto que merece destaque no lançamento do Kadett é que ele permite uma variada gama de versões – uma família completa. O GS, por exemplo, não é nenhuma adaptação, não é uma evolução de motorização enfeitada com aerofólio e faróis de milha. Ele já nasce um esportivo. Já nasce brabo com seu motor dois litros e recursos tecnológicos dos mais avançados. Agora é só esperar pelo próximo ano quando ganhará a injeção eletrônica de combustível e teremos entre nós um verdadeiro puro-sangue. Além disso, ele também terá sua versão conversível no futuro com o que a GM pretende desbancar a posição privilegiada ocupada pelo XR-3, da Ford.
Mas agora o assunto é o Kadett. Nos nossos contatos com pessoas comuns pudemos avaliar a polêmica e o impacto que causam suas linhas extremamente aerodinâmicas. Os mais jovens, acham o carro um tesão – revolucionário. Os mais afoitos e não muito chegados ao automóvel o classificam de forma diferente: "olha que barato de Chevette" ; "esse é o novo Monza?" "Legal esse Monza pequeno", e assim por diante. Alguns mais velhos são radicais. Um japonês velhinho se aproximou e começou a examinar rapidamente o Kadett, numa parada para reabastecimento. Ele conhecia o projeto e ficou entusiasmado de poder vê-lo de perto. Mas foi logo dizendo: "não gostei; não gostei. Essa traseira é que atrapalha. Esse estilo já era. E outra – esse afunilamento da traseira deixa o carro muito feio". Ele sacou, sem saber, a forma de "gota" do Kadett e a achou estranha. Mal sabia ele que ali estava todo o segredo da incrível aerodinâmica do carro, resultado de muito estudo, de muita pesquisa, na busca da forma ideal para se vencer o ar com o menor atrito possível e assim permitir maior conforto, velocidade e economia de combustível.
Chevrolet Kadett GS
No primeiro contacto o impacto visual é grande. Além do "design" em forma de cunha, da plataforma em formato de gota e da inexistência de saliências, o Kadett incorpora outros avanços tecnológicos bem visíveis: spoiler dianteiro integrado ao pára-choque, entrada de ar de refrigeração no pára-choque, maior vedação das junções, colunas arredondadas, espelhos retrovisores externos integrados, vidros nivelados com as colunas etc.
Outros importantes detalhes aerodinâmicos aparecem no modelo GS, o "top de linha", a versão esportiva do Kadett, equipado com o motor 2.0 do Monza. No capô duas saídas de ar dão um toque todo especial à dianteira. Nas laterais do teto há quatro locais apropriados para a colocação das garras de um bagageiro, fechadas por uma tampa plástica corrediça. Como o carro não dispõe de canaletas sobre as portas, essa foi a solução encontrada para a fixação daquele equipamento, sem comprometer a passagem do ar sobre o teto. Vamos falar mais do GS, pois esse foi o modelo avaliado por Autoesporte, nesse nosso primeiro contato com a linha Kadett.
Vidros fechados, cintos apertados. Ele começa a rodar. A primeira sensação é que todos os ruídos comuns ficaram para o lado de fora. Dentro, o conforto dos bancos Recaro e o suave som do ronco do motor 2.0 a álcool, único combustível disponível para a versão esportiva do Kadett. Logo se nota o esforço da GM em torno da aerodinâmica do automóvel. A leveza como desenvolve sua velocidade, a manobrabilidade perfeita, o pouco efeito de ventos laterais sobre o seu comportamento e o mais importante – o fácil e completo domínio do carro a altas velocidades. Aqueles efeitos que se notam em outros veículos, principalmente uma certa desestabilização acima dos 150 km/h, com tendências a trepidações inconvenientes e indesejáveis, não acontecem com o Kadett.
O modelo GS já nasce com aerofólio integrado (esq.); No porta-malas, o conjunto de ferramentas e estepe (dir.)
A velocidade máxima atingida de 184 km/h de velocímetro, cujo erro de 6% registra uma máxima real de 173 km/h, foi obtida com toda a segurança, em 5ª marcha. Ele se mantém firme em todas as passagens de aceleração no escalonamento das marchas, que aumentam o prazer de dirigir por permitirem a sensação de motor cheio em todas elas. A máxima do Kadett GS só perde para a do Gol GTi e iguala a do Opala Diplomata 4.100 (6 cilindros).
Quanto à aceleração de O a 100 km/h, ele também faz bonito: 10,6 segundos. Só perde, entre os carros nacionais, para o GTi, da Volkswagen. Com injeção eletrônica, com certeza, será o carro mais rápido do Brasil. As retomadas de velocidade em quinta marcha também registram marcas muitos boas: de 40 a 80 km/h em 9s; de 60 a 100 km/h ele consome 10,13s e dos 60 a 120 km/h gasta 16 segundos.
Na hora da segurança, no entanto, quando surge a necessidade de uma ultrapassagem mais rápida, é que se descobre a força da terceira marcha. No trânsito urbano ela é suficiente até para se ultrapassar as constantes lombadas das ruas, quando o carro quase chega a parar e cresce em aceleração até os 120 km/h. Uma delícia que economiza movimentos do motorista e dá a certeza da correspondência do motor à aceleração.
Chevrolet Kadett GSNas curvas mais fechadas, o domínio do Kadett GS é fácil
Outro ponto forte é a suspensão, adaptada da linha Monza. A suspensão dianteira é do tipo McPherson, composta de mola helicoidal, amortecedor tipo cartucho, barra estabilizadora e braço inferior de controle. A traseira é formada por um eixo composto de molas, amortecedores de duplo tubo e barra estabilizadora. A novidade fica por conta da possibilidade de regulagem da suspensão traseira, para melhorar as condições de dirigibilidade com peso total, ou quando se reboca um trailer por exemplo. O sistema serve para compensar a perda de altura livre do veiculo, quando o mesmo está carregado, através do enchimento de ar do sistema de pressão dos amortecedores traseiros. Esses amortecedores possuem um "boot" de borracha, que pode ser inflado ou desinflado conforme o peso que o veículo estiver transportando. A operação é simples e consiste no uso do bico de ar comprimido existente no compartimento do porta-malas, que funciona do mesmo modo que um bico de enchimento do pneu. Ou seja: pode ser feita nos postos de combustível, na mesma ocasião em que estiver sendo verificada a calibragem dos pneus.
Na questão dos freios a única novidade fica por conta das pastilhas, fabricadas com material que não utiliza o asbestos que provoca particulas cancerigenas no ar. Dessa forma o Kadett é o primeiro veículo nacional a atender o clamor dos laboratórios que identificaram os perigos do emprego do asbestos. No mais, os freios são a disco, ventilados, na frente, e a tambor na traseira. Nas medições dos espaços de frenagem ele se comportou bem, compativel com as características do carro. A 60 km/h, somente com o motorista, parou depois de 16 metros e a 80 km/h em 26,8 metros.
Finalmente, o porta-malas. Pode-se dizer que as soluções da GM para o espaço disponivel para bagagem foi ótima. Considerando-se que os modelos de traseira "hatch" sempre apresentaram porta-malas deficientes, o Kadett permite uma capacidade para 390 litros que pode ser ampliada para 490 sem a tampa e para até 1.000 Iitros com o banco traseiro rebatido para a frente.
O Kadett pelo lado de dentro
O painel é rico em informações e em detalhes. Volante com 5 regulangens, pedais bem posicionados, ótimo som
Aberta a porta, o primeiro destaque são os bancos Recaro, individuais na frente e seccionados atrás, permitindo rebatimentos de 1/3 a 2/3 para aumentar a área de bagagem do carro. A principal novidade fica por conta da introdução da regulagem vertical, através de uma manivela sob os bancos dianteiros que permitem que o assento suba e desça, conforme a necessidade do ocupante. As demais regulagens são as conhecidas dos usuários. Na traseira o espaço fica meio apertado para três pessoas, tanto na largura como na altura. Os cintos de segurança ficam devendo um engate e desengate melhores.
Sentado, o motorista toma contato com a visibilidade do carro. Ótima para a frente e laterais, esbarra no problema de todo automóvel hatchback – pouca visão para trás, agravada, no caso do GS, pelo obstáculo do aerofólio. A compensação fica por conta dos espelhos retrovisores externos. A nota mais baixa vai para a visão em diagonal, muito comprometida pela coluna "C", consideravelmente aumentada pelo espaço ocupado pela saída de ar de plástico em ambos os lados dos vidros laterais traseiros.
Mãos no volante, direção hidráulica (opcional) no GS testado, sente-se uma boa empunhadura e muita precisão de operações. Aliás, quanto maior a velocidade empregada, melhor ela se comporta, com firmeza, transmitindo muita segurança a quem dirige. Ela vem equipada com o mesmo sistema do Monza, de regulagem com cinco posições diferentes na altura.
Enfim, o painel de instrumentos. Como era de se esperar, bastante completo, com todas as informações para se guiar esportivamente. Além disso, vem equipado, no modelo GS, com o check-control, (opcional) localizado no alto do painel e com o computador de bordo no centro do conjunto, na direção da alavanca de câmbio. Ambos foram anunciados pela GM como novidades no mercado, mas outros veículos nacionais já os utilizaram sem sucesso.
O porta-malas é de bom tamanho e a traseira é alta no estilo hatch
Pelo que apresentou, durante a avaliação, o check-control não merece confiança. As luzes se acendiam e se apagavam de forma irregular, às vezes ficando acesa a que indicava problemas na parte elétrica (realmente havia uma lâmpada de lanterna queimada), mas muitas vezes ela deixava de sinalizar esse defeito. Outras vezes acendiam as lâmpadas que indicavam baixo nivel do reservatário de expansão e até do nivel de óleo do motor. Sempre que isso ocorria, verificávamos detalhadamente se haviam problemas, mas sempre estava tudo normal. A luz de freio ficou permanentemente acesa, sem, no entanto,
haver qualquer problema. O manual dizia que, após o primeiro toque no freio, essa lâmpada do check-control deveria se apagar. Mas isso não ocorreu em nenhum momento.
Quanto ao computador de bordo, suas informações não ajudam muito e trata-se de um equipamento perfeitamente dispensável. Ele registra o consumo instantâneo de combustível, o consumo médio de combustível, a velocidade média, autonomia do veiculo com o combustível disponível no tanque, temperatura externa e também e como relógio digital e cronômetro.
A localização dos diversos comandos no painel é boa e de fácil alcance a o motorista. O único inconveniente notado é a localização dos comandos dos vidros (elétricos) e do ajustes dos espelhos retrovisores externos (também elétricos) – atrás da alavanca o freio de mão. O extintor de incêndio fica entre o banco do motorista e sua porta. A alavanca do afogador, outro item de posicionamento importante no painel, também está no lugar correto – à esquerda de tudo, o que favorece o motorista desligá-lo pela janela, do lado de fora do carro, no período de aquecimento do motor.
Lanterna traseira envolvente e tampa do tanque (esq.); Espelhos externos também têm formato aerodinâmico (dir.)
Outros detalhes
Na versão GS, o Kadett inova com defletores colocados sobre as palhetas do limpador de para-brisa. Eles diminuem o impacto do ar, melhorando a aerodinâmica do carro e contribuem a uma melhor limpeza dos vidros ao enfrentar a água da chuva. Na traseira, o Kadett tem uma lâmpada de advertência para melhor sinalizá-lo sob nelina, na esquerda do pára-choque, acionada por uma tecla no painel de instrumentos. Os vidros, por sua vez, também em nome da aerodinâmica, são colados, com uma cola tipo epóxi, diretamente na estrutura do veiculo. Além de garantir maior vedação, segundo a fábrica, a posição, a nível da carroceria, melhora o Cx do carro. Na verdade, os vidros não provocam mais nenhum tipo de ruído ou zumbido contra o vento. O rádio é dos melhores e logo estará na mira dos ladrões. É AM/FM e toca fitas com 5 memórias e sistema de localização automática das emissoras. Ao lado direito do painel, dois espaços para pequenas projetos. Um aberto e outro o porta-luvas com tampa plástica de tamanho um pouco exagerado e com tendências a se tornar barulhenta.
Agora conhecemos o Kadett GS em detalhes, falta o mais importante: andar com ele.
Vire a chave e acorde a fera
Nas primeiras aceleradas o GS se revela um esportivo por completo. O motor dois litros do Monza, num carro com 100 quilos a menos de peso, favorece muito a relação peso/potência e dá uma gostosa sensação de leveza ao veículo. Ao mesmo tempo em que se ganha confiança ao volante, o comportamento corresponde. As curvas, perto do limite, são feitas com absoluta segurança com tendências neutras. O carro em qualquer situação fica sob total dominio do motorista mais experiente e acostumado às reações de um esportivo.
As formas arredondadas e nenhum empecilho à passagem do ar pela carroceria, favorecem as altas velocidades e é nesse ritmo que se guia o Kadett GS, praticamente todo o tempo. Ele realmente atiça o motorista. Essa forma impiedosa de tratar o carro faz com que se esqueça definitivamente os niveis de consumo. Afinal, ou se anda forte ou se economiza. Optando pela primeira hipótese, com o auxilio do excelente cambio (5 velocidades) de relações reduzidas, o que permite melhores arrancadas e excelente torque nas baixas velocidades, o Kadett consumiu, em média, 6,3 km/litro de álcool no transito urbano e graças à excelente aerodinamica, alcançou 8 km/l em rodovias, na base dos 100km/h de média. O tanque tem capacidade para 47 litros.
A arrancada da imobilidade aos 100 quilômetros por hora também é boa – 10,6 segundos, atingindo os 1.000 metros em 33 segundos. Mais importante que as marcas, no entanto, é o perfeito domínio do carro, sempre agarrado ao chão, um excelente trabalho da suspensão e das rodas 5 1/2 J x 14 de aluminio (exclusiva do GS) e pneus de baixo perfil, radial sem camaras da série 60. A tração é dianteira, coisa comum nos carros nacionais o que não oferece nenhuma dificuldade ao motorista.
Linha Kadett
Conclusão
Falamos e falamos do Kadett. Todavia, é muito importante que se tenha em mente, antes de ver o carro de perto, que o novo lançamento da GM do Brasil, é um carro, antes de tudo, pequeno. Na categoria dos que tem menos de 4 metros de comprimento (exatos 3,998 m) e que, portanto, apresenta as mesmas limitações de um carro de sua classe.
O revolucionário no Kadett são suas formas externas e os recursos tecnológicos que apresenta, tudo em nome do prazer de dirigir. Além disso, trata-se de uma família de carros que a fábrica, com certeza vai saber explorar com inteligência, tal a riqueza de opções que podem derivar das primeiras versões apresentadas. O GS agradou em quase tudo e se coloca na vanguarda dos modelos disponíveis no mercado brasileiro. Agora, resta aguardar a reação dos compradores.
Ficha técnica - Chevrolet Kadett GS
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